terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Para minhas amigas

Ufa. Com alfajores, sobrevivi à Buenos Aires. Talvez a própria viagem seja a grande culpada do texto de hoje. De longe, pode-se sentir melhor algumas coisas. Embora eu venha sentindo o que vou escrever aqui há um bom tempo. Antes mesmo de os meninos nascerem. A maternidade mudou também a minha relação com as pessoas. Pra ficar no clichê: deixei de ser só filha e venho aprendendo a ser filha e mãe ao mesmo tempo. Outro clichê: venho tentando ainda equilibrar o papel de mulher e mãe. Mais alguns? Some aí o de jornalista. E o de dona de casa.

A duras penas, bem devagarinho mesmo, isso tudo vem se ajeitando dentro de mim. E olha que lá se vai um ano, hein? Mas nessa balança muitas amizades continuam fora de encaixe. Não sei bem explicar o que acontece. Posso tentar. Num dia x - que não foi exatamente o dia em que descobri a gravidez nem o que ouvi os corações dos bebês - a vida pareceu rasgar em uma espécie de antes e depois muito definitivo. As conversas sobre a matéria legal que o fulano escreveu ou sobre o restaurante novo que abriu, ou sobre alguém que pegou alguém em uma festa, sei lá, as conversas de sempre, continuaram a soar divertidas e interessantes. Mas duas (!) crianças estavam crescendo dentro da minha barriga e, no momento em que escutava uma fofoca, por exemplo, por melhor que ela fosse, uma dessas criancinhas resolvia me chutar. E pronto. O tal chute me transportava para outra dimensão. E aquele antes e depois surgia profundo, assustador.

Tem sido um pouco assim ainda. Volta e meia, no trabalho, no meio de uma conversa, a qualquer hora - do dia, da noite... - as carinhas deles aparecem na minha frente e meio que esfumaçam tudo em volta. É claro que isso é uma delícia. Mas isso implica um pouco de isolamento também. Porque este sentimento tão intenso é só meu. E sinto muita saudade das minhas amigas. As mais próximas não têm filhos ainda (uma delas está grávida!), o que acredito que tenha tornado esse "desencontro" ainda mais natural.

Por isso, por exemplo, voltar a trabalhar foi bem importante pra mim. É algo que me obriga a, todo dia, fazer um exercício para transformar a rachadura do antes e do depois em uma fenda mais leve. Quero que ela exista. Tenho orgulho dela, inclusive. Mas acho saudável que as minhas conquistas consigam conviver de alguma forma. Pessoas como eu precisam se policiar o tempo todo para não se perderem, sabe? E a maternidade talvez seja o mais delicioso convite para a piração. Bom... tudo isso para desabafar que, às vezes, no meio de tanta coisa incrível, bate uma certa solidão e um medo. E que talvez o nome disso seja saudade. Saudade de uma tarde de brigadeiro de colher com as amigas.

9 comentários:

Marina disse...

Gi, querida!
Acompanhando o blog sempre.
Ja conversamos sobre isso e, como disse antes, voce nao esta sozinha. Que post perfeito! E realmente dificil, parece que a ligacao com pessoas que sempre foram e sao importantes nas nossas vidas ficam por um fio.
E a gente que esta do lado de ca sente uma necessidade maior de se adaptar...fico sempre pensando nisso. E dificil, pois alem do cansaco fisico, mental (afinal estamos ligadas 24 horas), ainda nos cobramos.
Ao mesmo tempo acho que e uma questao de tempo. Pelo menos assim eu espero. Logo as amigas passarao pela mesma experiencia e logo comecaremos a encontrar e se identificar com uma "turma" diferente. As maes dos coleguinhas e amiguinhos.
E ai e um outro mundo, totalmente novo, que teremos que aceitar e desbravar. E assim sao os ciclos das pessoas em nossas vidas - algumas ficam, outras se vao.
Da um medinho e uma certa nostalgia...
Beijos grandes para a family.
Tomas e Vitor lindos! Ja mudaram de feicoes desde que os vi.

Bruno Moreschi disse...

Que belo texto, Gi!

Gi Kato disse...

Ma, vc de certa forma me ajudou a escrever este texto com sua conversa. Sabe disso, né?

Bruno, saudade de vc! Soube que está de volta e doidinho pra escrever numa revista aí... hehehehehe!

kikks disse...

curioso que pensei em vc hoje de manhã, em não deixar para te ver só daqui um tempo. daí resolvi ler o blog e acho que precisamos marcar um brigadeiro...

beijo enorme

Gi Kato disse...

Ka...
Com vc precisa ser brigadeiro e Kit Kat, né? Pra voltarmos ao sabor das aulas na ECA!!!
Saudade, saudade, saudade.

Dani Zebini disse...

Gi, você não está sozinha. O fato de as pessoas estarem mais distantes não significa que não tem amem ou não se preocupem com você. Dá um grito de socorro aí pra ver se não chove amigo de todo lado! É que você está em uma fase diferente agora e é normal que dê importância para outras coisas. Mas pode ter certeza de que até quem não é tão próximo a você e lê este blog sofre com suas angústias e vibra com as conquistas. Então, sinta-se superacolhida sempre, queridona!
Beijocas,

Gi Kato disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gi Kato disse...

Cada comentário deste post, particularmente, sinto uma vontade enorme de responder.
Pra vc, Dani, acho que vale dizer: neste ano, tb ganhei amigas. Vc é uma delas. É muito bom tê-la por perto. Ah! E quando chegar sua vez de virar mamãe, estarei craque pra te dar várias dicas, viu?! Beijo lindona!

Unknown disse...

Gi, agora fiquei com desejo de brigadeiro! Vamos marcar? rs
beijos, saudades