domingo, 31 de maio de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Gente grande

Uma sacola de plástico enooorme fica agora em cima de uma bancada no meu quarto. Todo dia ao menos um par de roupas colabora para aumentar seu volume. São os macacões e bodys que não cabem mais nos meninos. E olha que eu não desisto tão fácil, não. Chego a alargar um pouco as golas com as mãos para ver se passam pelas cabeças. Encolho suas barrigas à força para abotoar um casaquinho. Lindo por sinal! Lindo e... já com a sacola como destino! Incrível como os bebês perdem roupa rapidamente. Para me consolar, as pessoas até lembram que o Vitor e o Tomás usaram por bem mais tempo o enxoval de RN, já que nasceram prematuros. Não adianta: sinto uma coisa estranha a cada leva perdida. Um pouco por causa dos gastos mesmo - no meu caso em dobro. Mas a melhor justificativa é bem irracional. E um tanto louca, concordo. No fundo, no fundo, quero que eles permaneçam assim. Pequenos. Saudáveis, fortes, mas em um tamanho que caiba no meu colo, sabe? Me dá um aperto esquisito toda vez que percebo que, sim, eles estão crescendo. As mudanças acontecem numa velocidade acelerada demais para o meu gosto. Eu não lido bem com mudanças...

Outro dia, depois de um longo período enxugando os meninos com fraldas, a babá me deu quase um ultimato: "Está na hora de tirarmos suas toalhas do armário. Eles já são mocinhos!" Ai! Quase morri do coração. As fraldas P eu dei para a minha cunhada porque também já não havia jeito de grudá-las sem que o xixi vazasse. E, na semana que vem, o pediatra vai me orientar para introduzir frutas em sua alimentação. Ao que tudo indica, muito em breve, terei de comprar prato e colher para eles (pronto! Viraram gente grande e eu não me preparei para isso!).

Aliás, no caso das frutas, outro detalhe me preocupa. Desde que saí da casa dos meus pais, elas agem como inimigas minhas. Juro que tento ir ao supermercado no ínicio da semana, com uma listinha toda organizada para um cardápio saudável, mas ou compro demais - e dias depois sou obrigada a jogar no lixo o abacaxi e a caixa de figos estragados - ou compro de menos - e dias depois sou obrigada a comer novamente um chocolate de sobremesa (o que não é exatamente um drama, né?). Agora, com o Vi e o Tom, no entanto, produtos em lata ou pacote estão descartados por enquanto. Ou seja, além de ter de lidar com esse crescimento aceleradíssimo da dupla, vou ter de fazer as pazes com o mundo colorido dos sabores que brotam da terra. É... Logo, logo, vou esnobar por aí com o que eu chamo de "geladeira de mãe", cheia de frutas, legumes, verduras. Vai ser um orgulho só! Enquanto eles viram gente grande, me empurram para esse posto também.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Outra tarde

Não tem um programa que me interesse na televisão à tarde. Entre uma mamada e outra, portanto, sobra tempo para os mais pertinentes delírios. Enquanto dou seqüência ao exercício mais popular na minha academia particular - o empurro de carrinho duplo com as pernas - penso muito. Tudo coisa séria. E que divido agora com vocês para que me ajudem a chegar a algumas decisões:
- eles vão me reconhecer quando ficarem o dia todo com a babá?
- eu vou gostar de suas namoradas?
- o que será que eles vão ser quando crescerem?
- vou ter dinheiro para levá-los à Disney?
- vou ter dinheiro para ir com o Pablo à Europa e ao Japão? (ok... essa foi meio egoísta...)
- vou ter dinheiro para pagar colégio, faculdade, dentista?
- estou tirando foto suficiente para não me esquecer de nada?
- será que depois do sufoco da UTI eles agora engordaram demais?
- minhas calças vão me servir daqui a duas semanas ou preciso comprar roupa para trabalhar?
- eu vou gostar de suas namoradas?
- será que eles já sabem da existência um do outro?
- qual deles fez cocô hoje?
- que carro precisamos comprar para caber o carrinho, os bebês-conforto e as malas?
- preciso comprar fraldas, latas de leite, pomadas e bolinhas de algodão hoje?
- eles vão ser bons alunos?
- eles vão curtir futebol, literatura, música e... exposições? (sim... exposições... nem que seja para me fazer companhia de vez em quando, vai...)
- eles vão gostar dos padrinhos e madrinhas que escolhemos para eles? (sem querer pressionar os nossos escolhidos, claro!)
- vou conseguir manter a casa com comida sempre fresca na geladeira?
- vou conseguir trabalhar, cuidar da casa, fazer supermercado, ir ao cinema, ler, escrever, manter os amigos por perto e ainda brincar com eles o suficiente?
- eu vou gostar de suas namoradas?
- eles vão ter orgulho da nossa família?
Como podem ver, minha cabeça anda muito ocupada. E não será nada surpreendente se minha terapeuta me expulsar na próxima consulta.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Lado a lado

Tom (esq.) e Vi (dir.): 29 de janeiro, na UTI do hospital

Hoje, o Tomás acordou umas sete da manhã, berrando. Muito. Ele tem uma personalidade forte. Quando não quer conversa, não há quem consiga lhe arrancar um sorriso. Mas, também, quando está de bom humor, distribui caretas fofas e simpáticas até para uma parede - é sério isso, não é modo de falar, não. Bom, hoje: levantei meio assustada e tentei acalmá-lo com a chupeta. Normalmente, só abrimos a janela em sinal de "bom dia" lá pelas oito. O Tom, no entanto, não parou de reclamar. Depois de umas quatro tentativas, alternadas com o pai, resolvi trazê-lo para a nossa cama. Estava ainda meio tonta de sono. Abri a blusa do pijama e dei o peito. Ele agarrou meu seio com uma vontade que fazia tempo que eu não via. Fechou os olhos de satisfação. Depois, ficou me encarando, como quem agradece, sabe? Mamou por quarenta minutos. Sem parar. O Tom acordou com fome e eu pude ajudá-lo. Ai... pode soar meio melancólico este texto mas, como vocês já estão avisados, me preparo espiritualmente para a volta ao trabalho. E isso implica em deixar de amamentá-los. Bem, vou tentar fazer isso ainda de manhã e à noite, mas sem a rotina de mamadas a cada três horas (agora quatro) sei que, aos poucos, o leite vai secar. E isso dá uma dorzinha chata e aguda no peito (não resisti ao trocadilho!).
As mães vão me entender: o começo dessa relação com os filhos é bem difícil. O seio dói, o leite vaza, empedra, a gente tem febre. Demora até atingirmos a fase do clichê "amamentar é a melhor coisa do mundo". Lembro que, por um tempo, duvidei bem de que fosse dizer isso um dia. Pois agora eu repito a toda hora: amamentar é mesmo a melhor coisa do mundo. Os médicos falam que quando são bem novinhos, os bebês enxergam só a uma determinada distância. Como calculá-la? É exatamente a distância que ficam do rosto da mãe quando estão mamando. Por isso nos reconhecem tão rápido. Ficar com eles assim, pertinho da gente, é desses momentos que nem devem ser muito descritos porque caem numa pieguice longe do que de fato ocorre. Não dá para explicar. Melhor só sentir.

E, pra mim, amamentar teve um gostinho especial ao longo desses meses porque me preparei muito para enfrentar a possibilidade de não conseguir viver essa experiência. Sabíamos de antemão que eram grandes as chances de eu não ter leite por causa do parto prematuro. Meu leite desceu, mas os meninos ficaram um mês na UTI e, nesse período, receberam o meu leite por sonda e depois por mamadeira, já que não dispunham de força para sugar direito. Só mais tarde é que pude colocá-los no meu peito. E aí havia o risco de eles recusarem o exercício. Mas os dois se lambuzaram como se viessem fazendo isso desde o primeiro dia de vida. Nossa! Foi uma alegria. Na manhã de 29 de janeiro, os dois mamaram juntos pela primeira vez, na sala da UTI semi-intensiva do hospital. Eu escutava essa sugestão de dar o peito para eles ao mesmo tempo nos cursos de gestante, mas, de novo, pensava que era mais conversa de enfermeira ou cena de propaganda de margarina. Nunca sonhei em protagonizar algo assim. Nunca imaginei que fosse ainda achar a estratégia bem prática. Pois durante dois meses e meio, o Vitor e o Tomás mamaram lado a lado. Só parei de colocá-los juntos quando ficaram pesados e compridos demais. Deixar de ter os dois nos meus braços, na mesma hora, foi difícil. Agora, me aproximo de deixar a amamentação de vez. Poxa! Valeu muito enquanto durou! Já sinto saudade.

domingo, 24 de maio de 2009

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Nossos cabelos

Durante a gravidez, enfrentei bravamente uns sete meses longe do cabeleireiro. Para alguns, a informação pode não significar muita coisa, mas quem já passou dos 30 vai me entender com certeza. Os fios brancos, que antes, quando apareciam, eu arrancava e dava risada, agora, digamos assim, dominam extensas áreas da cabeça. De uma cabeça com cabelos castanhos, o que piora a situação, né? Ou seja, no ano passado, eu ia trabalhar ou circulava por uma balada qualquer sempre beeem tensa. Como se já não bastasse a barriga - que às vezes eu até achava charmosinha, mas isso bem às vezes mesmo - eu ainda me policiava o tempo todo para bloquear qualquer movimento mais espontâneo do pescoço pra cima. Jogar o cabelão pro outro lado, prendê-lo em um rabo de cavalo, colocá-lo para trás da orelha, tudo proibido. Gestos quase definidores de personalidade, de repente, ficaram calculados. Claro que eu poderia ter desencanado disso por um tempo. Oras, todo mundo sabe (ou não?) que mulher grávida não deve pintar os cabelos. Mas eu ainda não desenvolvi auto-estima suficiente para participar de uma reunião importante, por exemplo, sem encanar com a possibilidade de um fio branco sequer fora de controle. Ou assumir o grisalho em um jantar com os amigos do marido. Vivi mais de meio calendário com faixas, grampinhos e lencinhos na bolsa.

Vitor e Tomás nascidos, tinta liberada pelo pediatra, cabelos devidamente cobertos... e eis que me deparo com um novo problema nessa área. Mas será possível? Dá raiva só de escrever isso aqui. Há um mês, os meninos perderam todos - todos mesmo - os raros fios que tinham espetados na cabeça. Ficaram carecas. Quase como se eu tivesse passado uma máquina zero nos fofos. E não é que, do nada, os meus recém-recuperados fios castanhos também resolveram cair loucamente? Estão espalhados pelo travesseiro, pelo sofá, entopem o ralo do chuveiro, surgem nos berços dos bebês. Tenho medo até de escová-los com muita força, sabe? Agora que a barriga vai voltando pro lugar... só faltava eu ser obrigada a recorrer a uma peruca. E isso que ocorre comigo tem explicação médica. Explicação é exagero, vai. Mas foi o pediatra do Vi e do Tom quem mencionou essa possibilidade logo na primeira consulta. Falou que era algo curioso que acontecia entre algumas mães e seus filhos. Bendita boca. E eu, além de uma mulher com questões de auto-estima para resolver, me descobri bem sugestionável. Você sabe de algo chato que pode acometer uma mãe de primeira viagem? Por favor, não me conte! Nos meus ouvidos, a coisa vira premonição das bravas.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A gente se entende

Eu olho para eles, dou um sorriso e eles riem de volta. De um jeito gostoso. Daquele jeito que a gente pensa que só o nosso filho sabe fazer. À medida que os dias passam, o Vitor e o Tomás interagem cada vez mais com as coisas e as pessoas. No carro, arregalam a vista para observar detalhes na paisagem. Em casa, reagem de forma diferente dependendo do momento e do cantinho em que estão. Arrisco dizer que eles curtem a rotina e se esbaldam de satisfação quando reconhecem algum lugar. Ou alguma situação. Por exemplo: todo dia, eu acordo, dou o peito e levo os dois de carrinho para a cozinha, para me fazerem companhia no café da manhã. É uma hora deliciosa. Eles sempre ficam acordados e (juro!) parecem entender direitinho o que acontece ali, enquanto folheio o jornal e espalho a manteiga no pão. Com isso, eu quero falar que, aos poucos, vamos criando uma espécie de código. Só nosso.

Enquanto o Vitor mama, eu sei que adora que eu faça um carinho em uma de suas mãos. Ele chega a esticar os dedos para sentir melhor o meu toque. Fica calmo, suga melhor. Enquanto isso, com a outra mão, ele acaricia as minhas costas. O Tomás se irrita quando converso durante a mamada. Quer atenção exclusiva na hora. E não gosta de chupeta. Quando está chorando muito, eu sei que preciso insistir com paciência. Passo a borracha sobre seus lábios e falo baixinho: "chiiiiiiii". Em pouco tempo, ele entende o recado e agarra a "amiga". Os dois gostam de carinho nos pés, fazem um biquinho irresistível antes de abrir o berreiro, viram os olhinhos durante uma sessão de cafuné, fecham as mãos e apertam as bochechas com força quando estão se espreguiçando. Curtem também que eu brinque chamando-os de "babões" (foi assim que eu consegui arrancar o primeiro sorriso deles!) e se assustam quando alguém tosse por perto. Enfim, dia após dia, essa lista aumenta. A gente vai se conhecendo melhor. E eu sinto uma vontade enorme de registrar tudo aqui porque essas coisas acontecem numa velocidade incrível e dá um medo danado de esquecer ou deixar escapar uma nuance sequer.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Um aperto

Estou com um aperto no coração. Daqui a exatas três semanas eu volto a trabalhar. Tenho saudade da minha vida de antes, claro. Nem passa pela minha cabeça abandonar a carreira (ou melhor... quando a idéia passa, ela vai embora rápido). Mas deixar os dois em casa o dia inteiro parece algo impossível no momento. Só de falar, dá falta de ar. Sempre senti um frio na espinha quando me perguntavam sobre o fim da licença mas, agora, o frio tomou conta do corpo todo. Alterno instantes equilibrados, em que me concentro nas contas a pagar, no possível orgulho que o Vitor e o Tomás possam ter da mãe trabalhadora... com episódios de descontrole absoluto. Hoje, comecei a chorar na fila do supermercado. Havia quatro pessoas na minha frente, com carrinhos cheios de compras, e me bateu um desespero digno de quem precisa se internar. Eu pensava: "Ai... Vou demorar aqui mais do que o previsto! Estou gastando "aqui" um tempo em que deveria estar com os meus filhos! Daqui a pouco, eu não vou poder beijá-los assim, no meio da manhã!" Quase larguei o saco de cenoura no chão e saí correndo.

Não fiz isso. Tomei fôlego e resolvi encarar a chatice do mercado como um treino para o tal dia 8 de junho, data da minha volta à revista (eu trabalho numa revista). Sei que devo parar de me fixar tanto nesse bendito dia porque assim acabo não aproveitando direito nem as três semanas que ainda tenho. Mas dizer isso para uma ansiosa patológica é o mesmo que pedir, num bar, para um alcoólatra se comportar. As mamadas, as trocas de fralda, os banhos, tudo tem assumido um gostinho de despedida. Sei lá. Soa como exagero isso escrito desse jeito, eu sei. Mas o que eu posso fazer? Deve ser o tal instinto materno misturado com umas doses extras de hormônios femininos. O fato é que ando chorando pelos cantos.

Hoje foi ainda o primeiro dia da babá no horário combinado para que ela possa cuidar deles na minha ausência. Uma hora, fiquei escondida, observando-a com os meninos, e pude imaginar direitinho a rotina da casa sem mim. Dá-lhe aperto! Mas eu confio que vamos ficar todos bem. O problema, por enquanto, é aguentar um coração em formato de ampulheta e fechar os olhos e ver um luminoso, piscando, bem grande: 8 de junho. Pra mim, vai ser como um primeiro dia na escola. Só que meu. Não do Vi e do Tom. Meu, aos 32 anos de idade.

Foto de domingo (atrasada!)

Tomás (esq.); Vitor (dir.)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

As comparações

Eles estão rindo muito. Começaram de um jeito meio econômico, eu diria. Davam aquele sorriso de canto de boca que me deixava sempre na dúvida: era uma reação espontânea ou um reflexo? Agora não. Brinco, converso ou só olho para eles e ganho um sorriso gostoso, puro, autêntico. Ontem, o Vitor esboçou até uma gargalhada. E, à medida que a comunicação com eles aumenta, aumentam também as diferenças de personalidade. O Tomás é um cara boa praça. Aposto que vai viver rodeado de amigos. Alterna entre um bom humor delicioso e uma irritação insistente. Distribui sorrisos com a mesma intensidade - e regularidade - com que cai no choro. O Vitor investe mais em uma sedução sutil. É capaz de ficar horas com os olhos arregalados, me admirando, por exemplo. Observa demais tudo a sua volta. O sorriso aparece para poucos e bons. Quando vem, no entanto, derrete o quarteirão. Prestando atenção nessas particularidades eu vou, devagar, tentando estabelecer a relação que quero ter com cada um deles. E isso exige uma certa dose de esforço porque, por fora, eles estão cada vez mais parecidos. Idênticos mesmo.

Se é esforço para mim, imagina para os outros? Volta e meia, as pessoas pedem para identificá-los por meio de comparações. "Quem é o mais bonzinho? E o mais danado?" Eu respondo. Mas, ultimamente, me empenho para resistir a esses comentários. De novo, me bate aquele medo de criar dois meninos ao mesmo tempo. Acredito que eles precisem desenvolver suas qualidades e defeitos livremente, sem ficarem presos a definições que, necessariamente, envolvam o irmão. Não quero que o Vitor fique conhecido como o mais bonzinho porque isso implica que o Tomás não seja bonzinho. E isso não é verdade. Driblar observações assim, porém, é bem difícil. Quando escapa uma frase nesse sentido, penso nos dois com uns 30 anos mais ou menos, em uma sessão de terapia. Naturalmente, colocando a culpa em mim. E trato logo de sorrir para eles. Eles, claro, pelo menos por enquanto, sorriem de volta. Vitor e Tomás: desculpas adiantadas por tudo de errado que faço e ainda vou fazer com vocês!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Leite com ameixa

Desde que chegou em casa, o Vitor sofre com prisão de ventre. Depois de quase uma semana sem sujar a fralda e muitas massagens na barriga, recorremos ao pediatra. Esperava por uma solução prática e rápida: um supositório ou um Lactopurga para bebês, algo assim. Mas o médico, numa linha natureba com a qual até simpatizo, foi firme: "Nada de remédio. Você é quem vai comer três ameixas secas por dia. O efeito laxante da fruta passará para o seu leite e o Vitor vai fazer cocô (na verdade, ele disse "vai evacuar", mas acho a expressão muito feia)". Bom, confesso que comprei as ameixas sem botar muita fé de que funcionariam. Obedeci mais para provar para todo mundo que aquilo tudo era besteira, sabe? Odeio ameixa seca. No dia seguinte, digamos que... eu é que amanheci indo ao banheiro mais do que gostaria. Numa das tais visitas, até que consegui rir um pouco da situação. Os tons clarinhos, o rosinha, o azulzinho dos quartos e das roupinhas dos bebês, convivem com um universo escatológico nada "inho". Há quatro meses, analiso cocô, cheiro cocô, limpo cocô e... pelo jeito como a história ia, a partir daquele momento, não só do Vitor e do Tomás. Nojento? Desculpa! Mas cuidar de bebês envolve um lado meio nojento mesmo. Acho que eles são programados para terem uma cara fofa justamente para compensar as surpresas dos traseiros.

O do Vitor, no entanto, continuou zerado nas duas trocas de fralda seguintes. No fundo, eu pensava com um tantinho de satisfação: "Está vendo? Não vai acontecer nada com ele!" Até que a coisa desceu com vontade. Não é que meu leite saia mesmo com essência de ameixa? Limpei um Vitor com um sorriso tão aliviado que cheguei a jurar que comeria as três ameixas por dia pra sempre! Sem me livrar do quarto empestiado, resolvi então cuidar do irmão. E foi só virar o Tomás no berço para entender por que o perfume não diminuía. Não dá para falar que ele havia feito cocô. O Tomás soltou foi uma bomba marrom no colchão. Desastre absoluto. Justo ele que estava com o intestino feito relógio! Infelizmente, a medicina ainda não descobriu nada que faça com que cada peito produza o leite de um jeito. Com as ameixas, eu fiquei com um Vitor feliz, mas ganhei um Tomás com diarréia. E me vi diante de um dilema à la Tostines. O que é melhor: um Vitor em dia e um Tomás cheio de assaduras ou um Vitor preso e um Tomás regulado?

CAI A FICHA DE QUE VIREI MÃE QUANDO... os assuntos do programa da Ana Maria Braga começam a me interessar. Antes, nem acordava a tempo de ligar a TV!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Na balança

Não dá nem para acreditar que eles pesam hoje seis quilos e meio. O Vitor nasceu com 1,900 e o Tomás, 1,700. Perderam bons gramas na semana seguinte. Ficaram 24 dias na UTI. Não pude pegar meus filhos no colo logo que eles saíram da minha barriga. Por semanas, me contentei em vê-los através do vidro da incubadora. A única coisa que conseguia fazer por eles era tirar meu leite com a bomba elétrica, no hospital, e assistir a uma das enfermeiras jogando o líquido na sonda. Quando começaram a mamar, eles recebiam três ml de leite a cada três horas. Medidas absurdas como um grama e um mililitro passaram a significar muito. Comemorava cada ml a mais, cada gr ganho. Hoje, olhando para eles, aqueles primeiros dias parecem algo distante. Mas, por mais estranho que soe, eu gosto de me lembrar da fase. De vez em quando, pego as fotos desse início tão difícil e faço isso. Ouço a voz do Pablo que, incansável, do meu lado, me consolava dizendo uma das coisas mais bonitas que já ouvi. Para ele, se tivéssemos vivenciado tudo de uma vez, a gente não teria suportado tamanha alegria. Então, fomos recebendo o presente aos poucos. Primeiro, encostamos só os dedos nas mãozinhas e pezinhos deles. Depois, acariciamos suas costas. Demorou para abraçá-los. Demorou mais ainda para eles pegarem meu peito. Experimentamos a máxima das felicidades em cuidadosas doses. Doses liberadas a conta gotas para que nossos corações agüentassem.

O Tomás fez uma cirurgia no coração. Quando vi os médicos levando aquela coisinha pequena para o centro cirúrgico, achei de verdade que não ia suportar a espera. Aliás, todo dia, quando o despertador tocava às seis e meia da manhã e levantávamos para voltar ao hospital, eu abria os olhos com medo de estar sem força para enfrentar mais um dia inteirinho por lá.

Ontem, soube que a Maria Eduarda, uma menina linda que ficava numa incubadora ao lado do Vitor, finalmente recebeu alta no domingo. Os pais dela, Kleber e Alessandra, mesmo sem saber, me ajudaram muito. Com toda certeza, um pouco da minha força veio do privilégio de conviver com eles. A Duda nasceu bem menor do que o Vi e o Tom. Eu entrava na sala da UTI e lá estava a Alê, curtindo a Duda, cantando baixinho para ela. Na época, a Alê não podia nem mexer na filha. Mesmo assim, esbanjava uma fé inabalável. O canto das mães ao lado das incubadoras é um som que, vira e mexe, cola na minha cabeça de novo. Embalada por melodias assim, eu virei uma pessoa diferente. Nem sei falar se estou melhor ou pior. Importa só é que estou diferente. Mais forte, acho. Pelo menos treze quilos mais forte: seis quilos e meio de cada filho. E isso eu devo ao Vitor, ao Tomás, ao Pablo... ao Kleber, à Alessandra, à Maria Eduarda.

domingo, 10 de maio de 2009

sábado, 9 de maio de 2009

Farmácia hoje e amanhã

Na volta de um passeio, agora no fim da tarde, paramos numa farmácia. Eu fiquei no carro, com os meninos, e o Pablo desceu para comprar um remédio contra gripe. Nós dois estamos meio mal, o que dá um certo pânico. Neste momento, cair de cama é um luxo do qual simplesmente não podemos desfrutar. Descon, Resfenol, Coristina, todos esses comprimidos nunca entraram em casa antes, sabe? A gente sempre foi do tipo que respeitou o ciclo da doença sem grandes dramas. Agora não. Ainda mais na madrugada de folga da nossa super babá! Bom, mas o que quero mesmo contar é que, quando abriu novamente a porta do carro, o Pablo tinha nas mãos uma sacola gigante. Na hora, pensei meio abobada: "Que tanto ele comprou? As pastilhas banais caberiam até no bolso!" A dúvida desapareceu logo quando peguei o pacote e apalpei um saco fofo lá dentro. Bolinhas de algodão, óbvio!

Foi então que bateu uma sensação ao mesmo tempo gostosa e assustadora. Desde que o Vitor e o Tomás chegaram, nenhum passeiozinho passa incólume a uma visita à farmácia. E, de lá, saímos sempre carregados de embrulhos com bolinhas de algodão, além de pomadas contra assaduras, fraldas e latas de NAN (o leite em pó próprio para bebês). É gostoso olhar para compras tão diferentes das que se costumava fazer e perceber o quanto a vida mudou. É, porém, igualmente assustador contabilizar a quantidade de coisas com que temos de nos reabastecer a cada semana. Um pacote com bolinhas de algodão, por exemplo, que usamos para limpá-los toda vez que trocamos suas fraldas, vai-se embora em dois dias. A lata de NAN, a grandona, com 800 gramas, termina em seis, oito dias no máximo. A bisnaga de pomada Bepantol (sim... eu também já usei esse creme para proteger uma tatuagem nova, agora, ele cobre o bumbum dos meus filhos!) também não dura muito mais do que isso. Enfim, hoje percebi que esse consumo louco nos levou a uma reação automática: toda vez que enxergamos uma farmácia na rua, já ligamos a seta do carro. Quantos pacotes de algodão? E de pomada? O pedido só varia de acordo com a disposição que estamos para carregar tudo do carro para casa. Porque vamos usar tudo. Com certeza.

PS: Começa hoje a série:
CAI A FICHA DE QUE VIREI MÃE QUANDO...
pensar em comprar um carro novo é pensar em uma van, com bagageiro grande...

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Controle em baixa

Batalho há anos contra uma doentia ansiedade. Sofro por antecipação com fatos que no fim nem se concretizam. Atropelo as coisas. Não sei como é viver sem tentar, a todo momento, controlar tudo. Bom, se essa mania já me atrapalhava antes, à medida que a barriga foi crescendo, o cenário só piorou. O que não necessariamente significa algo ruim. Prefiro encarar como mais uma chance de mudança. Talvez o Vitor e o Tomás tenham vindo assim, de uma vez, justamente para ajudar a me livrar desse comportamento tão irritante, arrogante até. Mas, cá entre nós, não tem sido nada fácil.

O desafio começou já lá pelo quinto mês da gravidez. Por um ultrassom, descobrimos que os meninos, gêmeos univitelinos, não estavam dividindo "irmamente" o espaço que tinham. Traduzindo: o Vi crescia bem, nadando em uma bolsa tamanho duplex enquanto o Tomás se contentava com um quarto e sala bem apertadinho. A princípio, não fiquei muito preocupada. Pensei na ironia da situação. Uns com muito, outros com pouco, desde o início. Meu médico, no entanto, me deixou desesperada. "Essa diferença pode interferir no desenvolvimento deles. Se aumentar, é grave". Tensa, eu lembro que disse na consulta: "Bom, então precisamos fazer alguma coisa. Que remédio devo tomar?" O doutor Marco Antonio sorriu: "Não há o que fazer. Temos só que torcer para que os dois se entendam aí dentro". Foi um choque. Justo eu, a rainha da iniciativa, teria de dormir e acordar em compasso de espera? Fiz um ultrassom por semana até o dia do parto. E, a todo exame, saia do laboratório ao mesmo tempo aliviada por eles estarem bem e já angustiada com a possibilidade de o quadro mudar no sábado seguinte.

Agora, o coração aperta por outro motivo. Não posso dar atenção aos dois sempre que eles precisam. Hoje, por exemplo, o Vitor acordou bem na hora em que eu dava banho no Tomás. Impotente, passei a ensaboar o Tom mais rápido, enquanto gritava pro irmão: "Calma, Vi! A mamãe já vai! Daqui a pouco é a sua vez!" O Vi não parou de reclamar e, a um dado momento, o Tom olhou pra mim e começou a chorar também. Claro. Viu uma mãe descabelada e que berrava e jogava água em sua barriga de um jeito apressado demais pro gosto dele. Pro gosto de qualquer um, eu sei. Mais tarde, o Vi retomou o choro. E de novo eu não pude atendê-lo. O Tom estava mamando. Por mais que eu saiba que, nessas horas, preciso manter a calma e me concentrar no que é possível cuidar, enfrento essas situações com uma dorzinha. Aguda e triste.

Queria muito dar colo a eles sempre que pedissem. Tenho medo de perder um sorriso, um gesto de um deles porque, na hora, me ocupava com o outro. Daí, me vem à cabeça a imagem do meu médico sorrindo: "Não há o que fazer diante disso..." É verdade que, com gêmeos, curto alegrias em dobro. Mas também abro mão do sonho de aproveitar um filho de cada vez.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

osgêmeos

"Ah! Você é uma sortuda! Dois de uma vez! Não vai precisar engravidar de novo. Fica com tudo resolvido!" Tenho ouvido isso muito mais do que pudesse imaginar. Tudo resolvido? "Precisar" engravidar de novo? Como assim? Pior é que esse comentário parte das mais diversas pessoas. De algumas não me causa surpresa. São aquelas que seguem a vida como cartilha, ou seja, namoraram, compraram apartamento próprio, casaram, tiveram um filho e agora planejam o segundo. Mesmo sem querer um segundo. Tudo conforme os ditos "parâmetros sociais". E aqui talvez seja bacana eu deixar claro que a seqüência já chegou a me seduzir muito. De vez em quando, ainda seduz. Só não tive competência para segui-la. Ou tive sorte para bagunçar com tudo. Sei lá. Mas, de outras pessoas, que até ontem pareciam tão livres, soa estranho. Escutar isso delas prova que, no fundo, no fundo, elas também continuam lidando com, pelo menos, a sombra das tais regras de antigamente. Nunca consigo responder direito à observação. Acho que dou um sorriso amarelo e, no ouvido do Vitor e do Tomás, sussurro logo que nem de longe enxergo a chegada dupla como uma solução prática.

Levo o comentário muito a sério? Pode ser. Ainda não me adaptei a esse novo papel na vida e as coisas assustam e incomodam em proporções exageradas. Outro exemplo: desde que nasceram, muita gente se refere a eles como "os gêmeos". "Como estão os gêmeos?", me perguntam. Raros são os que falam seus nomes. Acho isso uma loucura. Eles têm nome. E têm suas diferenças. O Vitor pode ficar mais chatinho em um dia. O Tomás pode sofrer com a reação a uma vacina. "Os gêmeos", dito assim, parece uma entidade, sabe? Algo frio e distante. A não ser, claro, que os gêmeos em questão sejam "osgêmeos" grafiteiros, que assumiram a expressão (por que será?) como assinatura artística e estão se dando muito bem por aí. É... talvez essa seja uma boa saída. Da próxima vez que me perguntarem sobre "os gêmeos", vou responder que eles devem estar planejando mais alguma exposição para breve!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Uma tarde

Estava tudo sob controle. Os dois dormiam como anjinhos. Fui à cozinha, preparei as mamadeiras com o complemento de leite que eles tomam além do meu peito e voltei para o quarto. Espiei os berços, de onde vinham um silêncio gostoso e um cheirinho de bebê digno de propaganda. Respirei satisfeita. Era uma das primeiras tardes sem a preciosa ajuda da vovó Suely, da tia Mabel ou da tia Sabrina - e tudo corria bem. Bem não. Tudo corria como no mais perfeito dos sonhos. Naquela hora, eu era capaz de bancar que algumas mães exageram ao falar do trabalho que uma criança dá. Estava ali, com duas, e ria à toa. Escolhi levar primeiro o Vitor para o trocador. Mais tranqüilo, ele sempre fica acordado quietinho depois da mamada, o que é fundamental para que eu consiga fazer tudo na seqüência, com o Tomás. Deixei o Vi espreguiçar, despejei água morna no pote com as bolinhas de algodão para limpá-lo, destampei a pomada. Com uma segurança invejável, abri a fralda. Foi então que um pintinho apontou para cima. Sem cerimônia, um jato de xixi quente entrou nos meus olhos e tirou uma das minhas lentes de contatos do lugar. Não sei até hoje o que foi maior: se o susto ou a ardência na vista. Com a cara pingando, a camiseta totalmente molhada e um tanto míope, retomei o equilíbrio e reiniciei a troca. Mas o Vi não tinha terminado o seu xixi ainda. Por pura sacanagem, eu desconfio. Ou para acabar de vez com aquela minha auto-confiança de primeira viagem. Foi só o tempo de eu relaxar um pouquinho. Em segundos, a cômoda estava encharcada. E com isso também o body, o macacão, as meias, os (poucos, eu sei) cabelos dele.

Uma troca que dura em média cinco minutos (sem cocô envolvido na história, claro!), acabou levando bem mais do que o dobro. Quando finalmente levantei a blusa para o Vi mamar, o Tom já abria o berreiro. Estava irritado com o barulho que fiz para pegar roupas limpas e com a bronca que dei - mesmo baixinho - no irmão. Estava ainda com fome. Tive de fechar o sutiã, pegar o Tom, amarrá-lo no carrinho, e adotar novamente aquela técnica de empurrá-lo com uma das pernas. A outra me dava sustentação para agüentar o peso do Vi, que mamava um leite, no mínimo, batido - um milk-shake, melhor dizendo -, de tanto que meu corpo se mexia. Àquela altura, qualquer cena romântica do momento da amamentação passava longe, muito longe, da minha realidade. Enquanto pedia para o Vi sugar rápido, consolava o Tom dizendo que logo seria a vez dele. No fundo, tentava consolar a mim mesma.

Depois arrotar, chegava a vez do Vi aguardar no carrinho o tempo da troca e da refeição do irmão. Acho que foi revanche. Mas o fato é que ele decidiu dedicar esse período todinho ao choro também. Esse período que, digamos assim, não foi nada menor do que o anterior. Pelo contrário. Escondido na fralda do Tom, esperava por mim um cocô fedido, mole e que se esparramava pelas suas costas. O body sujo, ao passar por sua cabeça, deixou rastros de cocô nos cabelos (poucos, eu sei!). Os dois se puseram a chorar muito. Cada vez mais alto. Eu gritava para que se acalmassem. No fundo, gritava para mim mesma. O que as mães fazem para manter aqueles bebês de propaganda daquele jeito?

Só sentei novamente no sofá da sala duas horas depois do rompante de confiança, ou seja, a pouco menos de 40, 50 minutos da próxima mamada. Tinha cocô e xixi na roupa, no rosto, no chinelo até. Em minutos, começaria tudo de novo. E assim lá se vão quase quatro meses. Se tem hora que sinto vontade de sair correndo? Ô se tem! Outro dia mesmo, desci até a garagem do prédio, liguei o rádio do carro no talo e fiquei lá, escondida, durante uma música inteira (!), enquanto minha mãe segurava a onda em casa. De vez em quando, me invade uma saudade imensa de quando as responsabilidades eram mais leves. Ou mais cheirosas ao menos. Mas, ultimamente, ao perceber que falta pouco para eu voltar ao trabalho (modo de dizer, né? estou trabalhando...), tem batido uma tristeza. Ansiosa legítima, me pego já com saudade de poder apertar essas quatro bochechas no meio da tarde. Mesmo sabendo que, muitas vezes, um aperto leva a um pum...

PS: este post é dedicado à minha mãe Suely, à minha prima Mabel e às minhas irmãs Sabrina e Cinthia. Sem elas, definitivamente, eu, Tomás e Vitor, não poderíamos contar na posteridade que esses quatro meses foram tão especiais. E foram.

domingo, 3 de maio de 2009

Foto de domingo

Vitor à esq.; Tomás à dir.

sábado, 2 de maio de 2009

Os nomes

Chegar aos nomes Vitor e Tomás não foi fácil. Primeiro porque sempre me imaginei com uma filha. A imagem que me vinha era aquela clássica: uma menina fofa, de lacinho e vestidinho, sabe? Cresci numa casa com quatro mulheres. E entrei em uma pequena e discreta crise quando o médico do ultrassom falou: "São meninos". Discreta porque há uma certa pressão social para se aceitar com um espírito elevado e um balde de alegria qualquer coisa que envolva os filhos, né? Acho que segurei bem a onda, mas lá no fundo eu pensava: "Não sei criar meninos". Bom, como se soubesse criar meninas...

Passado o susto (agora só suspiro por uma filha quando entro em uma loja e vejo a infinidade de roupinhas que existem para elas! Ser mãe de menina é poder brincar de boneca também!), com um pai completamente abobado pelo fato de ter dois meninos, começamos a discutir os nomes. Vitor surgiu logo de cara. Era o nome que a gente sempre comentava quando a maternidade era só brincadeira mesmo. Mas e o outro? Vivíamos levantando possibilidades. "Pedro?", eu sugeria. "Não, tive um amigo Pedro no colégio. Ele era chato", respondia o Pablo. "Bruno?" "Não... Gosto de Bruna, mas não de Bruno." Eu queria fugir dos modismos - já reparou que os nomes têm época? Agora, por exemplo, estamos na era dos Enzos e Lucas. O Pablo queria fugir dos apóstolos: Mateus, Tiago, Lucas (de novo!). Queríamos ainda algo que combinasse com Vitor, mas que não rimasse com Vitor. Ou, pelo menos, que não lembrasse dupla sertaneja... tipo Leo!

Um dia, senti saudade de uma amiga-irmã, a Mariana. Foi a primeira pessoa querida e próxima a ter filho. Tomás. Repeti o nome em voz alta e o Pablo: "Tomás. Tá aí! Gostei. Tomás! Não é óbvio. É curto. É forte." Abri o livro de nomes que a minha irmã Cinthia havia nos dado. Significado de Tomás: "gêmeo". Sumiram as dúvidas. Liguei para a Mari, contei que ia "imitá-la" e pedi que encarasse a decisão como uma espécie de homenagem. Hoje, desejo que os nossos Toms conheçam cumplicidade como a nossa.

Mais tarde, durante um café com outra amigona, a Marina, falei que havíamos finalmente escolhido. "Ai, mas não conta nunca pro Tomás que o nome dele significa gêmeo. Ele vai ficar traumatizado, achar que veio em segundo lugar, sei lá!" Demos risada na hora, mas seu comentário foi só o primeiro de muitos parecidos que viriam na seqüência. Não com relação aos nomes deles, mas por todo o resto. Tem sempre alguém de plantão - e quando não há ninguém a minha consciência apita sozinha - cuidando para que os dois recebam a mesma dose de colo, de elogio, de atenção. Entrar nessa onda dá uma pirada. Mas existe outro jeito?

PS: se fossem meninas, chamariam Olívia e Anita.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os outros

Hoje de manhã fomos ao parque da Água Branca. A decisão foi feita bem em cima da hora, na mesa do café da manhã, o que, para a gente, já é um imenso avanço. Até pouco tempo atrás, sair de casa com os dois exigia ao menos 24 horas de planejamento. Exagero? Não! Tem a bolsa com fraldas, pomada, lencinhos umedecidos, chupetas, paninhos. Tem o carrinho duplo. Tem os bebês-conforto. Tem os dois lances de escada de um prédio sem elevador. Tudo espremido no intervalo entre uma mamada e outra que, chuva ou faça sol, em nome do bom humor de todos, deve ocorrer a cada três horas. Nos primeiros passeios, depois de ter arrumado a bolsa, assistido ao pai descendo os degraus com o pesado carrinho, enrolado os meninos em mantas (sim... uma vergonha! mas eu também tenho me pegado várias vezes ao dia pensando que está batendo um ventinho em cima deles...), colocado um na cadeirinha, depois o outro, depois pulado do banco da frente do carro para o curto espacinho que sobrou no banco de trás... admito que queria já voltar pra casa, sabe? Aquilo tudo já era uma viagem!

Agora não. Em meia hora (recorde!), o papai já estava engatando a primeira. Ficamos uns 40 minutos no parque. E foram, por baixo, umas 15 paradas para conversas com estranhos. Pode confiar no número. Nós contamos mesmo. De repente, por causa do Vitor e do Tomás, viramos uma espécie de celebridade. Só não damos autógrafo, mas há quem já tenha pedido inclusive para tirar nossa foto. É impressionante a emoção e a curiosidade que um carrinho duplo causa nas pessoas. Primeiro dão um sorriso, na seqüência páram na nossa frente garantindo uma visão privilegiada da dupla, e aí disparam a enxurrada de perguntas: "São dois meninos? São idênticos? Quantos meses eles têm? Foi natural ou inseminação? Como você está conseguindo cuidar deles?" De início, devo confessar que adorei esse assédio. Poxa... vinha de um período muito difícil com os dois na UTI e despertar tal entusiasmo nos outros funcionava como uma recompensa.

Mas, atualmente, as perguntas têm me incomodado. São sempre as mesmas. E um pouco invasivas, né? Me pego tendo de dizer para um completo desconhecido que não, eu não fiz tratamento para engravidar, por exemplo. Ou contando como faço para identificá-los. Enfim, ando com a cara meio fechada ultimamente para intimidar mesmo os comentários. Outro dia, no entanto, voltando de um desses passeios, meu marido falou: "O bacana é que eles despertam nas pessoas uma reação das mais puras. O sorriso é sincero". Verdade. Mas na hora me bateu um medo. Para o Vitor e para o Tomás, o mundo como ele é talvez seja uma descoberta mais tardia. Ou mais dolorosa, sei lá. Porque, do jeito que as coisas vão, por muito tempo, eles vão conhecer tudo embalados por suspiros. Com isso na cabeça, fechei ainda mais a cara no passeio seguinte. E, ao cruzar com um casal que mostrou uma rara e completa indiferença aos dois, virei para o meu marido e soltei: "Qual o problema deles?"