sexta-feira, 1 de maio de 2009

Os outros

Hoje de manhã fomos ao parque da Água Branca. A decisão foi feita bem em cima da hora, na mesa do café da manhã, o que, para a gente, já é um imenso avanço. Até pouco tempo atrás, sair de casa com os dois exigia ao menos 24 horas de planejamento. Exagero? Não! Tem a bolsa com fraldas, pomada, lencinhos umedecidos, chupetas, paninhos. Tem o carrinho duplo. Tem os bebês-conforto. Tem os dois lances de escada de um prédio sem elevador. Tudo espremido no intervalo entre uma mamada e outra que, chuva ou faça sol, em nome do bom humor de todos, deve ocorrer a cada três horas. Nos primeiros passeios, depois de ter arrumado a bolsa, assistido ao pai descendo os degraus com o pesado carrinho, enrolado os meninos em mantas (sim... uma vergonha! mas eu também tenho me pegado várias vezes ao dia pensando que está batendo um ventinho em cima deles...), colocado um na cadeirinha, depois o outro, depois pulado do banco da frente do carro para o curto espacinho que sobrou no banco de trás... admito que queria já voltar pra casa, sabe? Aquilo tudo já era uma viagem!

Agora não. Em meia hora (recorde!), o papai já estava engatando a primeira. Ficamos uns 40 minutos no parque. E foram, por baixo, umas 15 paradas para conversas com estranhos. Pode confiar no número. Nós contamos mesmo. De repente, por causa do Vitor e do Tomás, viramos uma espécie de celebridade. Só não damos autógrafo, mas há quem já tenha pedido inclusive para tirar nossa foto. É impressionante a emoção e a curiosidade que um carrinho duplo causa nas pessoas. Primeiro dão um sorriso, na seqüência páram na nossa frente garantindo uma visão privilegiada da dupla, e aí disparam a enxurrada de perguntas: "São dois meninos? São idênticos? Quantos meses eles têm? Foi natural ou inseminação? Como você está conseguindo cuidar deles?" De início, devo confessar que adorei esse assédio. Poxa... vinha de um período muito difícil com os dois na UTI e despertar tal entusiasmo nos outros funcionava como uma recompensa.

Mas, atualmente, as perguntas têm me incomodado. São sempre as mesmas. E um pouco invasivas, né? Me pego tendo de dizer para um completo desconhecido que não, eu não fiz tratamento para engravidar, por exemplo. Ou contando como faço para identificá-los. Enfim, ando com a cara meio fechada ultimamente para intimidar mesmo os comentários. Outro dia, no entanto, voltando de um desses passeios, meu marido falou: "O bacana é que eles despertam nas pessoas uma reação das mais puras. O sorriso é sincero". Verdade. Mas na hora me bateu um medo. Para o Vitor e para o Tomás, o mundo como ele é talvez seja uma descoberta mais tardia. Ou mais dolorosa, sei lá. Porque, do jeito que as coisas vão, por muito tempo, eles vão conhecer tudo embalados por suspiros. Com isso na cabeça, fechei ainda mais a cara no passeio seguinte. E, ao cruzar com um casal que mostrou uma rara e completa indiferença aos dois, virei para o meu marido e soltei: "Qual o problema deles?"

3 comentários:

Mariana C S Valente disse...

Gisele querida, ótima esta idéia do blog, realmente acredito ser uma forma de aproximar os amigos e trocar experiências.
Assim, concluímos que todas as mães e pais (mais as mães do que os pais, me desculpem os pais...) deste mundo passaram por este momento mágico, cansativo e transformador; e que faz parte do nosso ciclo de crescimento como ser humano, claro, para mães como você!
Você vai ajudar muita gente com este blog e também ser ajudada neste momento tão delicado e cheio de emoções novas, parabéns! Lindo beijo, Mariana.
PS. No próximo comentário transmitirei uma bela carta enviada ao meu filho quando ele nasceu, vale a pena ler...

"O Pai" disse...

Hahahaha... Agora virei "o pai". Adorei ser essa personagem.

Gi Kato disse...

Mari linda!
AMEI sua visita! Estou esperando então a carta do Tomás, viu? Vc já tinha comentado comigo, agora fiquei bem curiosa! E em breve eu escrevo um post falando de um dos motivos por que meu filho chama Tomás. Por que será, hein?!