sexta-feira, 15 de maio de 2009

As comparações

Eles estão rindo muito. Começaram de um jeito meio econômico, eu diria. Davam aquele sorriso de canto de boca que me deixava sempre na dúvida: era uma reação espontânea ou um reflexo? Agora não. Brinco, converso ou só olho para eles e ganho um sorriso gostoso, puro, autêntico. Ontem, o Vitor esboçou até uma gargalhada. E, à medida que a comunicação com eles aumenta, aumentam também as diferenças de personalidade. O Tomás é um cara boa praça. Aposto que vai viver rodeado de amigos. Alterna entre um bom humor delicioso e uma irritação insistente. Distribui sorrisos com a mesma intensidade - e regularidade - com que cai no choro. O Vitor investe mais em uma sedução sutil. É capaz de ficar horas com os olhos arregalados, me admirando, por exemplo. Observa demais tudo a sua volta. O sorriso aparece para poucos e bons. Quando vem, no entanto, derrete o quarteirão. Prestando atenção nessas particularidades eu vou, devagar, tentando estabelecer a relação que quero ter com cada um deles. E isso exige uma certa dose de esforço porque, por fora, eles estão cada vez mais parecidos. Idênticos mesmo.

Se é esforço para mim, imagina para os outros? Volta e meia, as pessoas pedem para identificá-los por meio de comparações. "Quem é o mais bonzinho? E o mais danado?" Eu respondo. Mas, ultimamente, me empenho para resistir a esses comentários. De novo, me bate aquele medo de criar dois meninos ao mesmo tempo. Acredito que eles precisem desenvolver suas qualidades e defeitos livremente, sem ficarem presos a definições que, necessariamente, envolvam o irmão. Não quero que o Vitor fique conhecido como o mais bonzinho porque isso implica que o Tomás não seja bonzinho. E isso não é verdade. Driblar observações assim, porém, é bem difícil. Quando escapa uma frase nesse sentido, penso nos dois com uns 30 anos mais ou menos, em uma sessão de terapia. Naturalmente, colocando a culpa em mim. E trato logo de sorrir para eles. Eles, claro, pelo menos por enquanto, sorriem de volta. Vitor e Tomás: desculpas adiantadas por tudo de errado que faço e ainda vou fazer com vocês!

2 comentários:

dokmentallo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
dokmentallo disse...

Bebes, eles nao tem nenhum medo na mente! A mente deles eh livre, suas reacoes sao naturais e perfeitas.
Por exemplo, lembro a primeira vez que minha filha assumiu o controle do braco, erguendo-o com uma rotacao que me lembrava a mao de um lider religioso em gesto de beatitude, sei la, algo assim.

A velocidade da acao dela, a atencao completa em cada milimetro do movimento. O bracinho que antes, fazia aquela danca eletrificada que os membros dos bebes fazem, agora se erguia solene para pegar um mobile.

Ela nao tinha medo na mente. Na verdade, parecia nao haver diferenca entre ela, o braco e o mobile. Era seu aprendizado pessoal, acontecendo ali, na minha frente.

As pessoas nascem com caracteristicas. Quem julga eh o ego, essa maquina de dizer sim e nao, 0 ou 1, certo e errado, comeco e fim, bom e ruim...

Achei muito bacana o que voce disse, sobre nao "carimbar" ja as criancas com nossas proprias impressoes, nossa lente.

Eh como dizer: "meu filho nao tem talento pra isso, ou para aquilo". Bom, se a mente dele eh pura, sem medo, o que ele nao poderia ser?