quinta-feira, 7 de maio de 2009

Controle em baixa

Batalho há anos contra uma doentia ansiedade. Sofro por antecipação com fatos que no fim nem se concretizam. Atropelo as coisas. Não sei como é viver sem tentar, a todo momento, controlar tudo. Bom, se essa mania já me atrapalhava antes, à medida que a barriga foi crescendo, o cenário só piorou. O que não necessariamente significa algo ruim. Prefiro encarar como mais uma chance de mudança. Talvez o Vitor e o Tomás tenham vindo assim, de uma vez, justamente para ajudar a me livrar desse comportamento tão irritante, arrogante até. Mas, cá entre nós, não tem sido nada fácil.

O desafio começou já lá pelo quinto mês da gravidez. Por um ultrassom, descobrimos que os meninos, gêmeos univitelinos, não estavam dividindo "irmamente" o espaço que tinham. Traduzindo: o Vi crescia bem, nadando em uma bolsa tamanho duplex enquanto o Tomás se contentava com um quarto e sala bem apertadinho. A princípio, não fiquei muito preocupada. Pensei na ironia da situação. Uns com muito, outros com pouco, desde o início. Meu médico, no entanto, me deixou desesperada. "Essa diferença pode interferir no desenvolvimento deles. Se aumentar, é grave". Tensa, eu lembro que disse na consulta: "Bom, então precisamos fazer alguma coisa. Que remédio devo tomar?" O doutor Marco Antonio sorriu: "Não há o que fazer. Temos só que torcer para que os dois se entendam aí dentro". Foi um choque. Justo eu, a rainha da iniciativa, teria de dormir e acordar em compasso de espera? Fiz um ultrassom por semana até o dia do parto. E, a todo exame, saia do laboratório ao mesmo tempo aliviada por eles estarem bem e já angustiada com a possibilidade de o quadro mudar no sábado seguinte.

Agora, o coração aperta por outro motivo. Não posso dar atenção aos dois sempre que eles precisam. Hoje, por exemplo, o Vitor acordou bem na hora em que eu dava banho no Tomás. Impotente, passei a ensaboar o Tom mais rápido, enquanto gritava pro irmão: "Calma, Vi! A mamãe já vai! Daqui a pouco é a sua vez!" O Vi não parou de reclamar e, a um dado momento, o Tom olhou pra mim e começou a chorar também. Claro. Viu uma mãe descabelada e que berrava e jogava água em sua barriga de um jeito apressado demais pro gosto dele. Pro gosto de qualquer um, eu sei. Mais tarde, o Vi retomou o choro. E de novo eu não pude atendê-lo. O Tom estava mamando. Por mais que eu saiba que, nessas horas, preciso manter a calma e me concentrar no que é possível cuidar, enfrento essas situações com uma dorzinha. Aguda e triste.

Queria muito dar colo a eles sempre que pedissem. Tenho medo de perder um sorriso, um gesto de um deles porque, na hora, me ocupava com o outro. Daí, me vem à cabeça a imagem do meu médico sorrindo: "Não há o que fazer diante disso..." É verdade que, com gêmeos, curto alegrias em dobro. Mas também abro mão do sonho de aproveitar um filho de cada vez.

2 comentários:

dokmentallo disse...

Ah Gisele Kato, bem vinda ao clube! Fui a Abril outro dia receber da Super e liguei na sua redacao. Foi quando me contaram que voce estava de licenca maternidade.
Ser pai ja eh demais. Ser mae sei la, so se eu nascer mulher pra entender!

Gemeos entao, nossa! Parabens, luz pra vc!
E sei la, eu to morando longe da minha filha agora, por exemplo. Adoraria estar tendo os probleminhas dela diarios, as birrinhas, as reclamacoes.

Sinto saudades do sorrisinho dela, dela gritando: "-Pa- Paiii !" quando chego a escola.
Sinto falta dela dormindo e eu acordado, preocupado se alguma coisa vai acorda-la.

Francamente, nao da pra pensar nisso sem chorar. Os gemeos devem ser lindos e vc, uma babona.
Felicidades querida!

Bom, adoro conversar sobre criancas, cuidados, dicas, etc... me escreva qualquer coisa. Tenho dicas boas para os pais tambem.

Parabens!
Marcelao (Nego Mocambique)
http://negomocambique.multiply.com/

Ci disse...

Parecia que tava lendo um texto feito para mim no primeiro parágrafo...a droga da ansiedade e a vontade de controlar td! Brigo com isso todos os dias! rs. Nesses momentos a gente vê o qt somos parecidas...