segunda-feira, 4 de maio de 2009

Uma tarde

Estava tudo sob controle. Os dois dormiam como anjinhos. Fui à cozinha, preparei as mamadeiras com o complemento de leite que eles tomam além do meu peito e voltei para o quarto. Espiei os berços, de onde vinham um silêncio gostoso e um cheirinho de bebê digno de propaganda. Respirei satisfeita. Era uma das primeiras tardes sem a preciosa ajuda da vovó Suely, da tia Mabel ou da tia Sabrina - e tudo corria bem. Bem não. Tudo corria como no mais perfeito dos sonhos. Naquela hora, eu era capaz de bancar que algumas mães exageram ao falar do trabalho que uma criança dá. Estava ali, com duas, e ria à toa. Escolhi levar primeiro o Vitor para o trocador. Mais tranqüilo, ele sempre fica acordado quietinho depois da mamada, o que é fundamental para que eu consiga fazer tudo na seqüência, com o Tomás. Deixei o Vi espreguiçar, despejei água morna no pote com as bolinhas de algodão para limpá-lo, destampei a pomada. Com uma segurança invejável, abri a fralda. Foi então que um pintinho apontou para cima. Sem cerimônia, um jato de xixi quente entrou nos meus olhos e tirou uma das minhas lentes de contatos do lugar. Não sei até hoje o que foi maior: se o susto ou a ardência na vista. Com a cara pingando, a camiseta totalmente molhada e um tanto míope, retomei o equilíbrio e reiniciei a troca. Mas o Vi não tinha terminado o seu xixi ainda. Por pura sacanagem, eu desconfio. Ou para acabar de vez com aquela minha auto-confiança de primeira viagem. Foi só o tempo de eu relaxar um pouquinho. Em segundos, a cômoda estava encharcada. E com isso também o body, o macacão, as meias, os (poucos, eu sei) cabelos dele.

Uma troca que dura em média cinco minutos (sem cocô envolvido na história, claro!), acabou levando bem mais do que o dobro. Quando finalmente levantei a blusa para o Vi mamar, o Tom já abria o berreiro. Estava irritado com o barulho que fiz para pegar roupas limpas e com a bronca que dei - mesmo baixinho - no irmão. Estava ainda com fome. Tive de fechar o sutiã, pegar o Tom, amarrá-lo no carrinho, e adotar novamente aquela técnica de empurrá-lo com uma das pernas. A outra me dava sustentação para agüentar o peso do Vi, que mamava um leite, no mínimo, batido - um milk-shake, melhor dizendo -, de tanto que meu corpo se mexia. Àquela altura, qualquer cena romântica do momento da amamentação passava longe, muito longe, da minha realidade. Enquanto pedia para o Vi sugar rápido, consolava o Tom dizendo que logo seria a vez dele. No fundo, tentava consolar a mim mesma.

Depois arrotar, chegava a vez do Vi aguardar no carrinho o tempo da troca e da refeição do irmão. Acho que foi revanche. Mas o fato é que ele decidiu dedicar esse período todinho ao choro também. Esse período que, digamos assim, não foi nada menor do que o anterior. Pelo contrário. Escondido na fralda do Tom, esperava por mim um cocô fedido, mole e que se esparramava pelas suas costas. O body sujo, ao passar por sua cabeça, deixou rastros de cocô nos cabelos (poucos, eu sei!). Os dois se puseram a chorar muito. Cada vez mais alto. Eu gritava para que se acalmassem. No fundo, gritava para mim mesma. O que as mães fazem para manter aqueles bebês de propaganda daquele jeito?

Só sentei novamente no sofá da sala duas horas depois do rompante de confiança, ou seja, a pouco menos de 40, 50 minutos da próxima mamada. Tinha cocô e xixi na roupa, no rosto, no chinelo até. Em minutos, começaria tudo de novo. E assim lá se vão quase quatro meses. Se tem hora que sinto vontade de sair correndo? Ô se tem! Outro dia mesmo, desci até a garagem do prédio, liguei o rádio do carro no talo e fiquei lá, escondida, durante uma música inteira (!), enquanto minha mãe segurava a onda em casa. De vez em quando, me invade uma saudade imensa de quando as responsabilidades eram mais leves. Ou mais cheirosas ao menos. Mas, ultimamente, ao perceber que falta pouco para eu voltar ao trabalho (modo de dizer, né? estou trabalhando...), tem batido uma tristeza. Ansiosa legítima, me pego já com saudade de poder apertar essas quatro bochechas no meio da tarde. Mesmo sabendo que, muitas vezes, um aperto leva a um pum...

PS: este post é dedicado à minha mãe Suely, à minha prima Mabel e às minhas irmãs Sabrina e Cinthia. Sem elas, definitivamente, eu, Tomás e Vitor, não poderíamos contar na posteridade que esses quatro meses foram tão especiais. E foram.

5 comentários:

Unknown disse...

Gi,
Minha vida mudou para melhor, depois do nascimento do Tom e do Vi e, com certeza vai se encher de alegria a cada dia!!!!!!!
Bjs

Ana Holanda disse...

Gisele, aqui é a Ana do blog dos gêmeos. Sou a Ana, que estudou com a Pablo na Puc e, como vc, trabalha da Abril. Vi seu comentário no meu blog... e acabei de ler alguns de seus posts. Pois é... só quem tem gêmeos sabe o trabalho que dá. Quando os dois choram ao mesmo tempo dá uma vontade danada de sair correndo, né? Vamos trocar muuuuitas figurinhas. tenho certeza que temos muita, mas muita coisa em comum...beijos, ana. olha, meu email pessoal é ana.holanda@uol.com.br

Unknown disse...

Gisele

Sei que não é fácil, mas tenha certeza de que este filme maravilhoso estará sempre em suas lembranças. Os anos passarão, e as nebulosas lembranças continuarão fortes em um cantinho de nossa memória...
Deus abençoe estes lindos momentos.
Beijos
amiga da Suely, Junilia.

Nilma Raquel disse...

Gi!
Que legal ler isso tudo.
Sabe, quando virei mãe tinha um medo de gente que falava que ser mãe era mágico, lindo, maravilhoso e só... É tudo isso e o resto também, sô! Inclusive os momentos "quero-fugir-pelamordedeus".
E adianta explicar isso pra quem não é mãe?
Bem vinda ao clube!
Beijos!

Ci disse...

Gi,
Sem palavras para dizer o quanto esses dois mudaram nossas vidas...e olha que eu nem consigo ver tanto, curtir tanto, ajudar tanto...mas só de ta longe e saber que eles tão aí...ou saber que em dias eu vou apertar eles...ja vale! Amo vcs!