terça-feira, 12 de maio de 2009

Na balança

Não dá nem para acreditar que eles pesam hoje seis quilos e meio. O Vitor nasceu com 1,900 e o Tomás, 1,700. Perderam bons gramas na semana seguinte. Ficaram 24 dias na UTI. Não pude pegar meus filhos no colo logo que eles saíram da minha barriga. Por semanas, me contentei em vê-los através do vidro da incubadora. A única coisa que conseguia fazer por eles era tirar meu leite com a bomba elétrica, no hospital, e assistir a uma das enfermeiras jogando o líquido na sonda. Quando começaram a mamar, eles recebiam três ml de leite a cada três horas. Medidas absurdas como um grama e um mililitro passaram a significar muito. Comemorava cada ml a mais, cada gr ganho. Hoje, olhando para eles, aqueles primeiros dias parecem algo distante. Mas, por mais estranho que soe, eu gosto de me lembrar da fase. De vez em quando, pego as fotos desse início tão difícil e faço isso. Ouço a voz do Pablo que, incansável, do meu lado, me consolava dizendo uma das coisas mais bonitas que já ouvi. Para ele, se tivéssemos vivenciado tudo de uma vez, a gente não teria suportado tamanha alegria. Então, fomos recebendo o presente aos poucos. Primeiro, encostamos só os dedos nas mãozinhas e pezinhos deles. Depois, acariciamos suas costas. Demorou para abraçá-los. Demorou mais ainda para eles pegarem meu peito. Experimentamos a máxima das felicidades em cuidadosas doses. Doses liberadas a conta gotas para que nossos corações agüentassem.

O Tomás fez uma cirurgia no coração. Quando vi os médicos levando aquela coisinha pequena para o centro cirúrgico, achei de verdade que não ia suportar a espera. Aliás, todo dia, quando o despertador tocava às seis e meia da manhã e levantávamos para voltar ao hospital, eu abria os olhos com medo de estar sem força para enfrentar mais um dia inteirinho por lá.

Ontem, soube que a Maria Eduarda, uma menina linda que ficava numa incubadora ao lado do Vitor, finalmente recebeu alta no domingo. Os pais dela, Kleber e Alessandra, mesmo sem saber, me ajudaram muito. Com toda certeza, um pouco da minha força veio do privilégio de conviver com eles. A Duda nasceu bem menor do que o Vi e o Tom. Eu entrava na sala da UTI e lá estava a Alê, curtindo a Duda, cantando baixinho para ela. Na época, a Alê não podia nem mexer na filha. Mesmo assim, esbanjava uma fé inabalável. O canto das mães ao lado das incubadoras é um som que, vira e mexe, cola na minha cabeça de novo. Embalada por melodias assim, eu virei uma pessoa diferente. Nem sei falar se estou melhor ou pior. Importa só é que estou diferente. Mais forte, acho. Pelo menos treze quilos mais forte: seis quilos e meio de cada filho. E isso eu devo ao Vitor, ao Tomás, ao Pablo... ao Kleber, à Alessandra, à Maria Eduarda.

Um comentário:

Tatu disse...

Quanta emoção neste blog!! Devorei todos os posts e comentarios de uma vez e meus olhos estao cheios de lagrima agora.. é MUITO AMOR, MUITA FORÇA! E tudo estava ai dentro de voce e Pablo sempre. Parabéns por cada vitoria. Poxa. tá faltando depoimento de mulher solteira sem filho aqui:muitas vezes eu tambem que queria um colo, um sorriso e não recebo. isto não me faz menos feliz. SOBREVIVEMOS e BEM! não pire tanto.haha BJAO